terça-feira, 23 de setembro de 2008

CMVM proíbe "short selling" sobre títulos financeiros nacionais




A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) juntou-se a uma série de reguladores mundiais na proibição do recurso a operações de vendas a descoberto, o "short selling", sobre títulos de instituições financeiras. A medida deverá entrar em vigor já amanhã, e por tempo indeterminado.
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) juntou-se a uma série de reguladores mundiais na proibição do recurso a operações de vendas a descoberto, o "short selling", sobre títulos de instituições financeiras. A medida deverá entrar em vigor já amanhã, e por tempo indeterminado.
Depois da Alemanha, França, Holanda, Bélgica, Austrália e a Ilha Formosa (Taiwan), terem seguido o exemplo dos EUA e do Reino Unido na abolidação temporária deste mecanismo que permite aos investidores ganhar com a queda das acções, hoje, a CMVM anunciou a adopção de medida semelhante.
Em comunicado, o regulador afirma que “durante um período limitado, os membros do mercado Euronext e do PEX devem recusar as ordens de venda de acções e outros valores mobiliários com elas relacionadas relativas a empresas financeiras cotadas na Euronext Lisbon quando o ordenante não lhes assegure, no momento em que é dada a ordem de venda, a disponibilidade prévia integral dos valores mobiliários objecto da ordem”.
“Estão em causa posições relativas a acções do Banco Comercial Português, do Banco BPI, do Banco Espírito Santo, do Banco Popular, do Banco Santander Central Hispano, do Banif SGPS, do Finibanco Holding e do Espírito Santo Financial Group”, acrescenta a entidade presidida por Carlos Tavares.
O Conselho Directivo da CMVM, que na sexta-feira aprovou a obrigatoriedade dos intermediários financeiros revelarem as operações de “short selling” no dia posterior à sua realização, determina que os membros dos mercados divulguem informação ao público sobre os investidores que assumam uma posição curta (“short selling”) sobre acções de empresas financeiras que excedam 0,25% do capital social das mesmas”.
Foi aprovado ainda um regulamento que estende esta obrigação de divulgação aos próprios investidores, impondo igualmente o dever de comunicação à CMVM “dessas posições curtas e de outras detidas em acções de empresas não financeiras cotados no Euronext Lisbon”.
“Esta decisão da CMVM atende às circunstâncias excepcionais que atravessam os mercados de capitais bem como às consultas entretanto mantidas no âmbito do Colégio de Reguladores da Euronext, tendo em vista a harmonização das regras sobre esta matéria nos respectivos mercados”, conclui o comunicado da CMVM.

domingo, 21 de setembro de 2008

CMVM analisa medidas para limitar 'short-selling'


A Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) está a analisar a necessidade de vir a adoptar medidas extraordinárias nas operações de 'short-selling' efectuadas em Portugal.
Uma fonte oficial da entidade reguladora dos mercados adiantou hoje à Reuters que esta análise está a ser realizada "no âmbito do Colégio de Reguladores da Euronext e do Committee of European Securities Regulators (CESR)".
"A CMVM está a analisar a oportunidade e a necessidade de tomar medidas extraordinárias relativas às operações de 'short-selling', para além da monitorização que já vem fazendo sobre as posições curtas assumidas pelos intermediários financeiros", acrescentou a mesma fonte.
A autoridade de supervisão defende que, "independentemente de quaisquer outras medidas, a obrigatoriedade de reporte transparente dessas operações aos supervisores assume particular importância nesta conjuntura".
Também esta semana, a entidade reguladora britânica Financial Services Authority (FSA) e a norte-americana Securities and Exchange Commission (SEC) proibiram temporariamente as operações de venda a descoberto de determinadas acções, para proteger os investidores e os mercados no actual cenário de crise financeira.
Esta medida de emergência da SEC irá vigorar até ao próximo dia 2 de Outubro, prazo esse que poderá ser prolongado por mais 10 dias, enquanto que a proibição imposta pela FSA irá permanecer durante quatro meses.
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Comentários :

F. Noronha Leal (noronha.leal@gmail.com)
Muito "ponderam" eles... É o Sr. Ministro da Economia a ponderar fazer agora aquilo que dizia ir fazer quando alargou o âmbito de actuação da ERSEléctricos para ERSEnergéticos e agora...o Sr. Presidente da CMVM a ponderar fazer aquilo que outros (USA, Reino Unido) reconhecem que já deviam ter feito há muito tempo (vá lá, fizeram agora!) Um pedido, ponderem menos e actuem mais, por favor!

mrrm
a uptick rule, tanto na cotação anterior como na média do dia, funcionou maravilhosamente durante décadas, até 7 de Julho de 2007, data em que foi suspensa. É curioso verificar o que sucedeu desde essa data. Há quem diga que o short-selling virou amok, uma expressão trazida pelos portugueses dos daiacos do Bornéu. digna da globalização. MMartins-Sintra

Joaquim Sartorio
Então que é feito do mercado livre? Agora as posições curtas é coisa má? Então os especuladores já não fornecem liquidez ao mercado? Agora são vilões? Como é que se faz a cobertura (hedging) das posições longas em índices, por exemplo,se não deixarem fazer vendas a descoberto? Palhaçada é o que isto é.

pedro miguel
Acho mto bem. Pena vir 10 anos atrasado. Caro Joaquim, na impossibilidade hedging, fecha-se parte da posição longa. é a unica solução para desalavancar o mercado e evitar a falencia do sistema. Há anos q se previa a ruptura sistemica na seuqencia da alavancagem excessiva motivada pelos derivados.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A ruína do capitalismo, com a banca com medo e desconfiança da própria banca!




Estava um cliente a convencer um banqueiro a emprestar-lhe dinheiro quando este lhe disse: "Vamos dar um passeio até lá fora". Passearam-se calmamente pelo centro financeiro e regressaram. Diz o banqueiro: "Já não tem de se preocupar, eu não o posso ajudar, mas qualquer um dos meus colegas vai oferecer-lhe o crédito de que precisa".

O banqueiro não terá sido simpático com a concorrência. Mas manipulou o bem mais precioso no mundo financeiro, a confiança. Um activo que se esfumou nestes três últimos dias de pânico financeiro em Wall Street e um pouco por todo o mundo.
Têm sido três dias de elevada tensão. E quando se pensa que a situação se vai acalmar após injecções massivas de dinheiro por parte dos bancos centrais e surpreendentes iniciativas de nacionalização por parte das autoridades norte-americanas eis que nascem novas potenciais vítimas. Ontem foi a vez das, até agora, também muito respeitadas Morgan Stanley e Goldman Sachs assistirem à queda das suas acções, vítimas de rumores de que também vão precisar de ajuda.
O terror que as instituições financeiras ontem revelaram em emprestar dinheiro umas às outras expôs a desconfiança generalizada em que se está a viver. As grandes vítimas dessa falta de confiança estão a ser os bancos de investimento, exactamente aqueles que dependem do financiamento das outras instituições financeira.
Começa a construir-se a convicção de que a banca de investimento deixará de existir como actividade isolada. Só as instituições que oferecem serviços de investimento, mas recebem também depósitos, vão sobreviver a esta crise. O que, a ser assim, cria maior confiança na resistência do abalado UBS. E coloca ainda no topo bancos como o Credit Suisse, o Deutsche Bank e o JP Morgan. E, obviamente, bancos com redes de retalho, destacando-se, entre os grandes, o Santander e o HSBC.
Com esta ideia generalizada, os investidores tenderão a fugir dos bancos de investimento que não captem depósitos, agravando os problemas que possam já ter. E a pressão a que estão sujeitos é, neste momento, brutal.
O ambiente de ontem foi de quase colapso dos mercados interbancários norte-americanos. Nos empréstimos uns aos outros, os bancos só emprestavam aos que tinham a certeza de que reuniam condições para estarem seguros. O que deixou de fora as casas de investimento, já de si "secas" pela fuga dos seus grandes clientes, eles também a escolherem os grandes e seguros para os seus negócios.
A mudança de discurso das autoridades, agora a reconhecerem que a crise é mais grave do que se previa, é mais um elemento a juntar-se aos muitos que justificam esta fuga generalizada para portos seguros, como grandes bancos com muitos depositantes – e com mais dinheiro vivo e menos criatividade financeira. E mesmo escolhendo ser clientes dessas instituições, deixaram de estar rendidos aos ditos produtos estruturados, optando pelo ouro, pelo clássico depósito ou, obviamente, pelos títulos de dívida pública, activos que os fariam sorrir de desprezo aqui há pouco mais de um ano.
Esta crise promete ser uma grande lição para o mundo financeiro. Para já parece que se está a saber separar entre o que se deve deixar falir e o que se deve nacionalizar. Quando o fogo estiver acabado é tempo de reconstruir um sistema financeiro mais transparente.

Comentário:

Já há muito que existe esta desconfiança; veja-se este grande exemplo do BCP, com os milhares de problemas e praticamente em "falência técnica"...
Os adoradores do deus mercado, os adeptos do neoliberalismo, os entusiastas do capitalismo high tech, os analistas económicos que debitam vulgaridades nos media "de referência", todos eles estão agora confrontados com uma realidade brutal: a ruína do capitalismo, pelo menos da forma em que o conhecemos. Estes últimos sete dias representaram uma viragem na história do capitalismo mundial (nacionalização de facto dos passivos da Fannie e do Freddie, falência do Lehman, salvamento da AIG, aumento gigantesco da dívida externa dos EUA, início do reflacionamento da economia estado-unidense).
Há que ser claro: o que o Federal Reserve e o Tesouro dos EUA querem salvar não é a economia dos Estados Unidos e sim os seus banqueiros. O plano em curso é para reflacionar os activos imobiliários a fim de minorar os desastrosos balanços dos bancos. Por isso aumentarão o endividamento da população daquele país. Ou seja, resolvem um problema de dívidas insolventes com a acumulação de ainda mais dívidas. Trata-se de uma neo-escravização através da dívida. A repartição do rendimento nacional dos EUA obviamente irá piorar.
A procissão ainda vai no adro. A crise sistémica do capitalismo está longe de acabada. As sequelas e repercussões pelo mundo afora têm desdobramentos que mal se podem adivinhar. O risco de o imperialismo empreender uma fuga para a frente através da guerra é enorme. Tudo isso num pano de fundo de uma realidade física inescapável: o mundo já atingiu o Pico Petrolífero, o que tem consequências fundas. (Resistir)