quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A ruína do capitalismo, com a banca com medo e desconfiança da própria banca!




Estava um cliente a convencer um banqueiro a emprestar-lhe dinheiro quando este lhe disse: "Vamos dar um passeio até lá fora". Passearam-se calmamente pelo centro financeiro e regressaram. Diz o banqueiro: "Já não tem de se preocupar, eu não o posso ajudar, mas qualquer um dos meus colegas vai oferecer-lhe o crédito de que precisa".

O banqueiro não terá sido simpático com a concorrência. Mas manipulou o bem mais precioso no mundo financeiro, a confiança. Um activo que se esfumou nestes três últimos dias de pânico financeiro em Wall Street e um pouco por todo o mundo.
Têm sido três dias de elevada tensão. E quando se pensa que a situação se vai acalmar após injecções massivas de dinheiro por parte dos bancos centrais e surpreendentes iniciativas de nacionalização por parte das autoridades norte-americanas eis que nascem novas potenciais vítimas. Ontem foi a vez das, até agora, também muito respeitadas Morgan Stanley e Goldman Sachs assistirem à queda das suas acções, vítimas de rumores de que também vão precisar de ajuda.
O terror que as instituições financeiras ontem revelaram em emprestar dinheiro umas às outras expôs a desconfiança generalizada em que se está a viver. As grandes vítimas dessa falta de confiança estão a ser os bancos de investimento, exactamente aqueles que dependem do financiamento das outras instituições financeira.
Começa a construir-se a convicção de que a banca de investimento deixará de existir como actividade isolada. Só as instituições que oferecem serviços de investimento, mas recebem também depósitos, vão sobreviver a esta crise. O que, a ser assim, cria maior confiança na resistência do abalado UBS. E coloca ainda no topo bancos como o Credit Suisse, o Deutsche Bank e o JP Morgan. E, obviamente, bancos com redes de retalho, destacando-se, entre os grandes, o Santander e o HSBC.
Com esta ideia generalizada, os investidores tenderão a fugir dos bancos de investimento que não captem depósitos, agravando os problemas que possam já ter. E a pressão a que estão sujeitos é, neste momento, brutal.
O ambiente de ontem foi de quase colapso dos mercados interbancários norte-americanos. Nos empréstimos uns aos outros, os bancos só emprestavam aos que tinham a certeza de que reuniam condições para estarem seguros. O que deixou de fora as casas de investimento, já de si "secas" pela fuga dos seus grandes clientes, eles também a escolherem os grandes e seguros para os seus negócios.
A mudança de discurso das autoridades, agora a reconhecerem que a crise é mais grave do que se previa, é mais um elemento a juntar-se aos muitos que justificam esta fuga generalizada para portos seguros, como grandes bancos com muitos depositantes – e com mais dinheiro vivo e menos criatividade financeira. E mesmo escolhendo ser clientes dessas instituições, deixaram de estar rendidos aos ditos produtos estruturados, optando pelo ouro, pelo clássico depósito ou, obviamente, pelos títulos de dívida pública, activos que os fariam sorrir de desprezo aqui há pouco mais de um ano.
Esta crise promete ser uma grande lição para o mundo financeiro. Para já parece que se está a saber separar entre o que se deve deixar falir e o que se deve nacionalizar. Quando o fogo estiver acabado é tempo de reconstruir um sistema financeiro mais transparente.

Comentário:

Já há muito que existe esta desconfiança; veja-se este grande exemplo do BCP, com os milhares de problemas e praticamente em "falência técnica"...
Os adoradores do deus mercado, os adeptos do neoliberalismo, os entusiastas do capitalismo high tech, os analistas económicos que debitam vulgaridades nos media "de referência", todos eles estão agora confrontados com uma realidade brutal: a ruína do capitalismo, pelo menos da forma em que o conhecemos. Estes últimos sete dias representaram uma viragem na história do capitalismo mundial (nacionalização de facto dos passivos da Fannie e do Freddie, falência do Lehman, salvamento da AIG, aumento gigantesco da dívida externa dos EUA, início do reflacionamento da economia estado-unidense).
Há que ser claro: o que o Federal Reserve e o Tesouro dos EUA querem salvar não é a economia dos Estados Unidos e sim os seus banqueiros. O plano em curso é para reflacionar os activos imobiliários a fim de minorar os desastrosos balanços dos bancos. Por isso aumentarão o endividamento da população daquele país. Ou seja, resolvem um problema de dívidas insolventes com a acumulação de ainda mais dívidas. Trata-se de uma neo-escravização através da dívida. A repartição do rendimento nacional dos EUA obviamente irá piorar.
A procissão ainda vai no adro. A crise sistémica do capitalismo está longe de acabada. As sequelas e repercussões pelo mundo afora têm desdobramentos que mal se podem adivinhar. O risco de o imperialismo empreender uma fuga para a frente através da guerra é enorme. Tudo isso num pano de fundo de uma realidade física inescapável: o mundo já atingiu o Pico Petrolífero, o que tem consequências fundas. (Resistir)


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